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32ª Feira do Livro de Brasília homenageia o professor

Recheada de atrações nacionais, evento também tem espaço para a experiência local

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Minha primeira lembrança de uma experiência literária estruturada — a enciclopédia de casa e os textos das lições dos livrinhos do primário eram experiências mais lúdicas, mas não menos importantes — foi na sala de aula. Tinha 10 anos e estava na quinta série, atualmente o sexto ano. A professora explicou o método e as nuances de dois poemas – que também são músicas – do Chico Buarque.

Explicou como a alteração de alguns substantivos nos versos aparentemente repetidos em “Construção” reforçavam a mensagem ao mesmo tempo em que geravam uma nova composição de significados. Sobre “Corrente”, explicou como a leitura se alterava diametralmente, caso as estrofes fossem lidas em diferentes grupos de duas, como uma corrente — subterfúgio para ludibriar a censura da ditadura militar. Achei fantástico.

Seria exagerado dizer que me tornei um leitor atento em razão dessa única experiência, mas ela foi a primeira, pelo menos na minha memória consciente, que me fez olhar para a literatura como algo encantador. Esse, certamente, é um momento importante na minha trajetória de burilar palavras. E foi uma professora a responsável por esse encontro.

Apostaria que todos os leitores atentos e escritores poderiam contar uma história como essa, sobre como um professor influenciou ou facilitou o nascimento desse hábito, dessa paixão. É esse sentimento que serve de mote para a 32° Feira do Livro de Brasília. Em nome de todos os professores, o evento decidiu homenagear José Pontes, idealizador da Escola da Ponte, de Portugal.

Mas não foi fácil fazer a ideia sair do papel. A feira existe desde de 1982, mas nos últimos cinco anos, o evento só ocorreu em 2013. Problemas burocráticos, como falta de apoio, mas também conceituais, como uma falsa competição entre a Feira e a Bienal, inaugurada em 2012, quase deixam a Feira de fora do calendário de eventos literários do DF. Logo a Feira, tão querida pelos brasilienses. A troca de data e de local também chegou a assustar, mas no fim, deu tudo certo.

O novo local, o Centro de Convenções, é o mesmo das melhores edições do passado, e a nova data, de 16 a 24 de julho, não compete com a Bienal, que será em outubro. Aliás, a data foi alterada em razão de um evento que reunirá em Brasília, pessoas que tiveram contato com extraterrestres – só aqui já teríamos algumas histórias – e outro, que reunirá a indústria de cuidados com o cabelo. Nada contra, mas há algo de errado quando o que vai dentro da cabeça perde espaço para o que vai fora, não é?

O pessoal da Câmara do Livro e do Sindicato dos Escritores, organizadores do evento, juntamente com o Colegiado Setorial do Livro, tirou de letra. O evento está de pé e a expectativa dos organizadores é de receber cerca de 300 mil pessoas, em seus 50 eventos simultâneos.

O evento tem uma programação riquíssima. Para os que gostam de celebridades, haverá convidados ilustres, como os poetas Frederico Barbosa, Carlos Nejar e Antonio Carlos Sechin, os jornalistas Miriam Leitão e Zeca Camargo, o escritor de obras infanto-juvenis André Vianco, os escritores-mirins Hector Angelo e Lorena Reginatto, autora do canal Careca TV, e os educadores Frei Betto e José Pontes, o homenageado.

Para quem gosta das estrelas locais, haverá encontros com Maurício Gomyde, Roger Mello, Alex Andrade, Lilia Diniz, Felipe Fortuna e Nicolas Behr. Há também uma lista de ofertas de atividades com artistas e agitadores culturais locais, que foram selecionados para fazer oficinas, apresentações e leituras para os participantes. A lista pode ser encontrada aqui.

E para quem gosta do contato mágico com os professores, há uma lista de 24 professores-escritores selecionados por edital para reproduzir na Feira aquela experiência mágica com que iniciei este texto. A lista pode ser conferida aqui.

A Feira ainda tem eventos especiais como o RAPEL – a mistura candanga de Rap, Poesia e Cordel -, o evento Shakespeare is in the Fair, o Encontro Nacional de Jovens Escritores, o Encontro Nacional de Blogueiros Literários e o evento especial em homenagem a CPLP. Programe-se. Compareça. Recupere a criança curiosa que mora dentro de você. O cardápio completo pode ser encontrado aqui.

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Eu não tenho a alma de um corrimão

“Eu sou mais do elo, da liga e do laço.
Respeito para mim é coisa fina,
assim como o abraço.
Mais do que as transas e os beijos,
as mãos dadas me parecem mais sinceras.
Tão ruins quanto as promessas
são as esperas.”

Ana Elisa Ribeiro (Anzol de pescar infernos)

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