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Desbravamos a Costa Oeste americana, um paraíso cervejeiro

Mais de 77% da produção de lúpulo americano nascem no Yakima Valley, estado de Washington, possibilitando às cervejarias da região “temperos” frescos

atualizado

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André Vasquez/Metrópoles
São Francisco André Vasquez
1 de 1 São Francisco André Vasquez - Foto: André Vasquez/Metrópoles

Imagine que você nasceu na Nova Zelândia e é apaixonado por futebol. Aprendeu a jogar bola, acompanha os campeonatos do mundo inteiro e até criou seu próprio time de futebol. Aí, um belo dia, você compra passagem para o Brasil e assiste, ao vivo, em duas semanas, partidas incríveis dos times Grêmio x Internacional, Flamengo x Fluminense, Santos x São Paulo, Galo x Cruzeiro e Bahia x Vitória.

Foi assim que eu me senti na viagem cervejeira que fiz para a costa oeste norte-americana, no mês passado, quando visitei São Francisco (Califórnia), Seattle (Washington) e Portland (Oregon).

André Vasquez/MetrópolesPra entender o porquê dessa escolha, é preciso conhecer dois dados importantes: mais de 77% da produção de lúpulo americano nascem no Yakima Valley, no estado de Washington, o que possibilita às cervejarias da região terem acesso aos melhores e mais frescos “temperos” para desenvolverem os estilos americanos que tanto amamos.

Segundo, porque existem, nesses três estados, 1.051 cervejarias artesanais, segundo a Brewers Association. Quando qualidade e a quantidade se juntam, o resultado é pura euforia — e foi isso que vivi durante duas semanas. Experiência que narrarei por partes aqui na coluna. Começando por São Francisco.

Brews on the Bay e o Dia D
Todos os anos, São Francisco recebe, aproximadamente, 100 cervejarias californianas em um evento chamado San Francisco Beer Week. Além do grande festival de abertura, que inicia a semana cervejeira, a cidade é invadida por festas, lançamentos e degustações.

Participei dessa experiência incrível em 2014 e, este ano, conheci uma versão “pocket” do festival organizada dentro de um navio de guerra com vista para a ponte Golden Gate e para a penitenciária de Alcatraz. Chamado Brews on the Bay e produzido pela SF Brewers Guild, ele reuniu 24 cervejarias da cidade apresentando receitas que combinavam com o ensolarado e gelado verão.

A primeira impressão do evento é de deixar qualquer um de boca aberta. Primeiro, é preciso passar por toda confusão turística do Fisherman’s Warf e caminhar em direção à baía, no Pier 45. Só então, o encontro com o imponente navio de guerra acontece de fato. Lá na hora, descobri que a embarcação SS Jeremiah O’Brien participou do desembarque dos aliados no Dia D, na Normandia, no dia 6 de junho de 1944. Então, antes de mais nada, o visitante se conecta a um dos dias mais importantes da história da humanidade – e parte para uma odisseia cervejística.

“Frescor” é a palavra
Passado esse transe histórico, encontrei as primeiras cervejas. Se tivesse que escolher uma palavra para descrever todas as preciosidades que experimentei (e não consegui contar quantas foram), essa palavra seria “frescor”. Tudo parecia ter sido espremido diretamente na cerveja, tamanha a volatilidade dos aromas e a potência dos sabores.

André Vasquez/MetrópolesProvei algumas inesquecíveis, como a Almanac Farmer’s Reserve Raspberry, uma sour maturada com framboesas em barril de carvalho que acabou em meia hora; a Laughing Monk’s Mango Gose, feita com sal do Himalaia e Manga, e a Thirsty Bear Devil’s Milkshake, uma Ale com morangos frescos e condicionada em nitrogênio.

Não é coincidência que todas as minhas preferidas continham ingredientes da região. Isso faz toda a diferença em uma cerveja que, claro, estava sendo servida praticamente do tanque (ou barril) de fermentação.

Show de organização
Além das cervejas, o festival tinha sol, vento gelado, música ao vivo e comidinhas, em um show de organização. A criatividade das cervejarias, como sempre, me impressionou. Tá na cara que, com o mercado interno consolidado, a palavra de ordem para cativar novos clientes é uma só: experimentação.

Depois de muitas microamostras de degustação, precisei me concentrar para anotar tudo no caderninho e não esquecer de nenhum detalhe – um brinde à maturidade. Por tudo que o Brews on the Bay reuniu — uma tarde de alto astral, história e, claro, muita cerveja –, posso dizer que foram os US$ 55 mais bem gastos da minha vida.

André Vasquez é sócio e curador do Ohmybeer.

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