Jejum passa a ser dispensado para 99% dos exames de sangue
Pesquisas que mostraram que o consumo de alimentos antes da realização desses testes causa baixa ou nenhuma interferência nas análises
atualizado
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Uma decisão recente das principais organizações que integram a sociedade médica brasileira flexibilizou a necessidade de jejum para exames de sangue com perfil lipídico — aqueles que determinam as dosagens de colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos.
O novo consenso é resultado de uma série de pesquisas científicas e do avanço das metodologias diagnósticas que demonstraram que o consumo de alimentos antes da realização desses exames — desde que habituais e sem sobrecarga de gordura — causa baixa ou nenhuma interferência na análise do perfil lipídico.
Nessa terça-feira (21/2), 45 integrantes da comunidade médica de Brasília se reuniram para discutir o assunto. Segundo o endocrinologista Sérgio Vêncio, especialista que contribuiu para os estudos e a formalização do consenso, hoje, 99,9% dos exames de sangue não necessitam do jejum. A partir de agora, os médicos deverão indicar ou não a necessidade do jejum e determinar o período, quando for o caso.“Essa é uma tendência mundial. Caminhamos para que em pouco tempo o jejum não seja obrigatório para nenhum exame. Desta forma, cabe ao médico ter senso crítico para avaliar os resultados de acordo com o tempo de jejum realizado ou a falta dele”, explica Vêncio.
A medida beneficia, principalmente, grupos considerados de risco como gestantes, idosos, bebês e diabéticos, que podem entrar numa situação de hipoglicemia — quando o nível de glicose no sangue está abaixo da faixa considerada normal (60mg/dl), podendo causar tonturas, vômitos, náuseas e até desmaios.
A flexibilização também vai facilitar a vida de pessoas como Luana Pontes, de 28 anos, mãe de Cauã, de um ano e um mês. No último mês, o bebê precisou fazer um hemograma e uma análise sanguínea com o objetivo de detectar alergias. Para isso, foi solicitado um jejum de oito horas.
“Não deixei ele mamar na madrugada. Foi muito complicado, porque ele mama o tempo todo quando está comigo. O que fiz foi levá-lo bem cedo para a coleta, mas foi horrível. Ele chorou, reclamou, brigou muito. Não dormimos nada. Fiquei com o coração na mão e o peito transbordando de tão cheio”, conta.
No fim, apesar de todo o esforço, ao chegar ao laboratório, Luana ouviu da enfermeira que o jejum de oito horas era desnecessário. “Ela falou que duas horas já seriam suficiente. Fiquei com muito ódio desse exame”, disse.
De acordo com a diretora médica do Laboratório Exame, Tatiana Veloso, dos 3 mil exames oferecidos pela empresa, apenas 15 precisam de jejum. “Essa prática já é realidade nos Estados Unidos, Canadá e em países da Europa. Com a evolução tecnológica, já é possível avaliar o real estado metabólico do paciente sem a abstenção da alimentação”, acrescenta. No entanto, ressalta que cada médico tem autonomia para solicitar ou não o jejum.
Confira a lista dos exames que necessitam de jejum:
EXAME | JEJUM |
Proteína ligadora de IGF | 4 horas |
Polipeptídeo pancreático | 4 horas |
Homocisteína | 6 horas |
Haptoglobina | 6 horas |
Peptídeo C | 8 horas |
Tolerância a lactose | 8 horas |
Tolerância a glicose | 8horas |
Ácidos graxos de cadeia ramificadas | 8 horas |
Vitamina B6 | 8 horas |
Absorção de xilose | 8 horas |
Vitamina C | 8 horas |
Glicemia | 8 horas |
Gastrina | 12 horas |
Adiponectina | 12 horas |
Ácidos graxos de cadeia longa | 12 horas |
Ácidos graxos | 12 horas |
Outra vantagem da nova orientação, segundo Tatiana Veloso, será a diminuição do fluxo nos laboratórios no período da manhã. “Agora, o paciente terá a comodidade de escolher qual o melhor horário do dia para fazer a coleta. Os médicos também têm muito a ganhar, pois podem ter acesso aos resultados mais rapidamente”, destaca.
Sobre os lanchinhos tradicionais servidos após as coletas de sangue, a diretora comenta que “não vão acabar, pelo menos no laboratório Exame”, brinca.
Clique aqui e confira do Consenso Brasileiro para a Normatização da Determinação Laboratorial do Perfil Lipídico, elaborado em conjunto pela SBPC/ML e Sociedades Brasileiras de Cardiologia/Departamento de Aterosclerose (SBC/DA), Análises Clínicas (SBAC), Diabetes (SBD) e Endocrinologia e Metabologia (SBEM).