metropoles.com

Por medo de violência no parto, mãe leva pistola para maternidade

Moradora de Itapecerica da Serra, em São Paulo, a mulher queria evitar complicações ao dar à luz um dos filhos

atualizado

Compartilhar notícia

iStock
Fotografia mostra gestante sentada com as mãos no rosto - Metrópoles
1 de 1 Fotografia mostra gestante sentada com as mãos no rosto - Metrópoles - Foto: iStock

O processo de dar à luz o terceiro dos seus quatro filhos, em 2015, traumatizou a dona de casa Paula de Oliveira Pereira, de 28 anos. Moradora de Itapecerica da Serra, na região metropolitana de São Paulo, a mulher ficou por mais de 14 horas em trabalho de parto e sem acompanhante — embora a legislação assegurasse a ela o direito de ter um —, em um hospital público da capital paulista.

A situação piorou. Paula pediu anestesia, por causa das dores provocadas pelas contrações, mas não foi atendida. Na sequência, caiu da maca, de barriga no chão. Ouviu da equipe médica que o bebê não nascia porque ela era “fraca” e “não fazia força suficiente”. Em seguida, a enfermeira subiu em cima da gestante para tentar empurrar a criança. “Fiquei sem ar, minha barriga ficou toda roxa”, lembrou.

Para tentar evitar que a cena se repetisse durante o parto do quarto filho, no ano passado, a dona de casa entrou na maternidade com um objeto inusitado (e potencialmente letal): uma pistola. As informações são da colunista Rita Lisauskas, do jornal O Estado de S. Paulo.

No ano passado, já à espera do quarto filho, Paula economizou dinheiro para pagar por uma cirurgia cesariana em um hospital particular. Porém, não juntou o bastante. Motivada pelo desespero, conta a mulher, comprou a arma de fogo, às escondidas. “Eu planejava chegar na maternidade e pedir por uma cesárea. Se não fosse atendida, ia me matar. Sabia que não ia aguentar tudo aquilo de novo”, relembrou.

Pedido e prisão
Ao chegar na maternidade, após o rompimento da bolsa, o marido de Paula pediu por uma cesárea ao plantonista. Segundo ela, o companheiro ouviu grosserias de um médico, mesmo após relatar o sofrimento do parto anterior. “O médico disse que quem mandava ali era ele, que paciente não tinha escolha”, narrou. Angustiada, Paula mandou mensagem à mãe, contando que portava uma arma e tiraria a própria vida.

A avó do bebê correu para o hospital e avisou que a filha estava com uma pistola. Na sequência, a Polícia Militar foi chamada. Paula até conseguiu passar por uma cesariana. No entanto, foi separada do recém-nascido e presa logo após receber alta, três dias depois de dar à luz, por porte ilegal de arma. A dona de casa foi encaminhada a uma delegacia em uma viatura, algemada. Ficou na cadeia por 21 dias, período em que não amamentou o bebê e sequer o conheceu.

O advogado de Paula conseguiu que ela aguardasse o julgamento em liberdade. A audiência ocorreu no mês passado. A promotora de Justiça de Itapecerica da Serra, Daniela Dermendjian, pediu a absolvição da dona de casa. A juíza concordou. “Ela contou no depoimento que levou a arma para a maternidade para se matar se os médicos não fizessem a cesárea. A gente entendeu que ela queria se suicidar e suicídio não é crime”, explicou a promotora.

Quinto filho
Paula está grávida de quatro meses. Espera o quinto filho. Portadora do gene da trombofilia — condição que pode causar o entupimento de vasos sanguíneos —, ela não pode tomar anticoncepcional. Batalha por uma nova cesárea e, principalmente, por uma ligadura de trompas. Sabe que tem direito à esterilização por lei, por ter mais de 25 anos e pelo menos dois filhos vivos.

Entretanto, ainda demonstra insegurança, por não saber se sua vontade será respeitada. “Ainda não sei se vou conseguir. Já pedi para a médica do posto. Mesmo assim estou apreensiva.”

Compartilhar notícia