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“Fachin e Janot ajudam o Centrão”, critica o ex-deputado César Maia

Pai do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ex-prefeito do Rio de Janeiro condena a denúncia contra Michel Temer (PMDB-SP)

atualizado

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FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
Cesar Maia
1 de 1 Cesar Maia - Foto: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

Principal articulador da fidelidade de seu filho, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao presidente Michel Temer (PMDB-SP) no momento mais crítico deste governo, o vereador pelo Rio de Janeiro César Maia minimiza sua participação no processo.

Ex-prefeito da capital fluminense e ex-deputado federal pelo estado, ele atribui ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin e ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o fortalecimento do Centrão. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, César Maia também acrescenta que o DEM não deve estar “a reboque” do PSDB em 2018.

A mosca azul de ver seu filho presidente não picou o sr.? Quais foram os motivos que levaram o sr. a aconselhá-lo a ficar ao lado do presidente Temer?
Rodrigo não é mais meu filho. Eu é que sou o pai dele. Eu não aconselhei. Eu concordei. Aquilo que a imprensa disse, que Rodrigo articula parado, é espetacular. Não teve mosca azul nenhuma. Pergunta lá quantas vezes eu fui a Brasília, na residência oficial da Câmara dos Deputados ou no gabinete dele. Nenhuma.

Ele veio ao Rio no momento mais crítico da crise, acompanhado de Mendonça Filho (então deputado, hoje ministro da Educação), no momento em que o DEM quase desembarca.
Mendoncinha teve comigo e com o Rodrigo uma vez. Mas eu não sou um personagem ativo nesse processo. Sou um opinador, um comentarista. Lembro que quando a coisa ficou forte, quando familiares e amigos já começaram a achar que ele já era o presidente, mandei um WhatsApp para ele com apenas uma palavra bem grande, em tipo alto: humildade. Acho que foi o único conselho que dei nesse processo todo. E ele me respondeu: “Pai, pode ter absoluta certeza que vai ser assim. Fique tranquilo”.

Em que momento foi isso?
Foi naquele momento em que já era dado como certo que ele assumiria. Teve um movimento ali, dez, 15 dias antes da votação, quando o assunto era tratado como se fosse uma realidade. Eu achava que era um erro substituir o presidente. Aquela votação foi um erro para o Brasil. Porque no momento daquela impulsão do Janot e a recepção do Fachin, a reforma da Previdência estava no forno. Era só colocar para votar. Na hora que entra o caso, fica a dúvida: quem será o presidente? Isso esfriou.


“A iniciativa de Janot e Fachin fragilizou o PSDB. A razão da crise do PSDB é exatamente a votação em relação ao Temer. É fato que o PSDB dividiu

César Maia, ex-deputado federal

Mas Rodrigo, que era a opção para a substituição de Temer, é a favor da reforma.
Ele lidera esse processo. E aí com esse problema que teve, a reforma passou a ser submetida a um crivo de negociação interna. Porque, se me perguntar quem é o responsável pelo fortalecimento do Centrão, eu respondo: Janot e Fachin, que entregaram ao Centrão uma peça de negociação que não tinha.

O Centrão já era articulado desde o processo de impeachment.
Mas o poder que o Centrão tinha já estava colocado no governo Temer. Olha o ministério dele. Estou falando do acréscimo de poder. A iniciativa de Janot e Fachin fragilizou o PSDB. A razão da crise do PSDB é exatamente a votação em relação ao Temer. É fato que o PSDB dividiu.

De que forma o DEM se beneficia com a divisão do PSDB?
Hoje a previsão que se pode fazer é de que vai haver, no campo do centro, que é o que a gente busca há muito tempo, uma troca de personagens do PSDB com o DEM. O DEM pode ocupar esse espaço, seja com esse nome ou com outro nome. A razão foi a iniciativa do dr. Janot e do ministro Fachin. Ontem (quinta-feira), o ministro Fachin disse que não vai incluir o nome do presidente Temer no caso do PMDB (o inquérito conhecido como “quadrilhão”). E, na minha leitura, a probabilidade do ministro Fachin colocar a segunda flecha é nenhuma. A segunda flecha é para 1º de janeiro de 2019.

“A primeira denúncia é de uma inutilidade gigantesca. Se se começa pela outra denúncia, de que houve ou não houve obstrução da Justiça, aí poderia ter um quadro diferente. Acho que foi uma precipitação que teve uma consequência política e econômica grande

César Maia, ex-deputado federal

O que o sr. achou da denúncia?
Um ato com consequências jurídicas inócuas e consequências políticas e econômicas grandes. A primeira denúncia é de uma inutilidade gigantesca. Se se começa pela outra denúncia, de que houve ou não houve obstrução da Justiça, aí poderia ter um quadro diferente. Acho que foi uma precipitação que teve uma consequência política e econômica grande. Teve outra consequência que foi afetar a liderança política do presidente, que chegou a dizer que estamos vivendo um semiparlamentarismo. O que ele quer dizer com isso? Um homem com a experiência de Temer? “Eu estou enfraquecido.” O fortalecimento dele tem de ser o fortalecimento institucional, que é o caso da Câmara e Senado.

O que mudou entre o impeachment de Dilma Rousseff e a votação da denúncia contra Temer?
Primeiro, há uma adesão das elites empresariais às teses do governo Temer que é total, 100%. Tem um presidente da Câmara que tem a coragem de fazer uma defesa aberta e explícita às reformas liberais. O Brasil precisa que o governo Temer complete (o mandato) e a decisão de Fachin (de não incluir Temer no “quadrilhão”) vai ajudar muito o país.

O DEM terá candidato à Presidência em 2018?
Depende de ter nome, criar uma marca.

Rodrigo está descartado?
Não sei. O Brasil precisa que ele se reeleja deputado federal e que a Câmara continue com uma condução como a dele, não conflituosa.

O fato de ele descartar o Executivo tem alguma coisa a ver com o inquérito do qual ele é alvo?
Que é ridículo… Fachin agora mesmo cancelou o depoimento que ele iria dar.

Como acha que o DEM deveria aproveitar esse momento de crescimento?
Eu diria que dando tempo ao tempo. Se estivéssemos na Alemanha, eu responderia que é automático o líder ascender a primeiro-ministro. Agora, no Brasil, com sistema orgânico, voto proporcional aberto e partidos sem marca… A iniciativa do Doria pode ser um bom exemplo para os quadros do DEM. Ele, que é um homem do marketing, de TV, foi dizer: ‘Sou prefeito, mas quero ser candidato a presidente daqui a um ano’. Um ano! Aí ele faz uma programação para ter visibilidade. Os nomes que nós temos têm de se propor. O DEM não vai a reboque do PSDB.

Recomendação
O presidente da Câmara sugeriu na sexta-feira, durante encontro do DEM, o nome do pai para governador do Rio de Janeiro. “César Maia fica aí com muita humildade”, iniciou Rodrigo Maia. “Mas quando explodiu a crise do presidente Michel Temer, quem controlou a vontade de alguns do Democratas de sair do governo e, consequentemente ajudou a decisão do PSDB de não sair do governo foi o César Maia”, completou.

No canto da ampla sala da sede DEM, bem mais cheia do que nos anos anteriores por causa do poder de atração que o partido passou a exercer após a eleição de um dos seus filiados à chefia do Poder Legislativo, o vereador de 72 anos, ex-prefeito do Rio e “padrinho” de dezenas de políticos do estado, não mexia um músculo.

“A quilômetros de Brasília, César Maia participou ativamente desse momento, aconselhando, construindo cenários futuros e a importância de a gente entender também que cada coisa tem seu tempo para acontecer”, prosseguiu.

Em seu discurso, Rodrigo indicou o tipo de conselho que recebeu em julho passado, logo após a revelação da informação de que o empresário Joesley Batista havia gravado Temer em conversa comprometedora. “Cada um precisa ter, primeiro, a sua posição pessoal, de caráter e lealdade, clara e, mais do que isso, responsabilidade com o Brasil”, disse.

“Qualquer movimento nosso que fosse para assumir a presidência do Brasil, inviabilizando qualquer votação da reforma, estaria atendendo à nossa vontade pessoal e partidária e levando o Brasil para uma situação muito ruim.”

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