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Delação de Funaro: Temer recebeu e intermediou propina, diz revista

Operador financeiro afirma que o presidente da República recebeu propina e “confabulou” o impeachment de Dilma Rousseff

atualizado

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Lúcio Funaro
1 de 1 Lúcio Funaro - Foto: Reprodução

A delação de Lúcio Bolonha Funaro tem ingredientes para sacudir a estrutura do Palácio do Planalto. Segundo o homem apontado como operador financeiro do PMDB, o presidente da República, Michel Temer (PMDB), fez lobby para políticos, cobrou repasses de caixa dois e recebeu propina. As informações constam na revista Veja, em reportagem assinada por Robson Bonin.

Nos dados passados a investigadores da Operação Lava Jato no tempo em que esteve na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, Funaro disse que nunca conversou sobre dinheiro diretamente com Temer. Segundo ele, essa interface era feita por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-presidente da Câmara dos Deputados que teve o mandato cassado e hoje está preso em Curitiba.

O operador, contudo, afirma que era informado por Cunha sobre as divisões da propina. Funaro assegura que Michel Temer conhecia a estrutura de corrupção engendrada por Eduardo Cunha. “Temer participava do esquema de arrecadações de valores ilícitos dentro do PMDB. Cunha narrava as tratativas e as divisões (de propina) com Temer”, acusa o operador, segundo a revista Veja.

O delator menciona dois repasses feitos ao presidente da República. Um deles, de R$ 1,5 milhão, teria sido pago pelo grupo Bertin, agora chamado Grupo Heber, que atua nas áreas de infraestrutura, energia e agronegócio, entre outras. A reportagem não especifica em qual período teria ocorrido a transação.

O segundo pagamento irregular a Temer, que teria sido feito em 2014, foi fruto de um acerto com a JBS. Funaro conta ter intermediado o repasse de R$ 7 milhões da JBS, que tinha como destinatários Temer, Cunha e o ministro da Agricultura na época, Antônio Andrade.

Temer ainda teria sido o responsável por intermediar um pagamento de R$ 5 milhões de Henrique Constantino, do Grupo Constantino, à campanha do então deputado Gabriel Chalita (PMDB) à prefeitura de São Paulo, em 2012.

Ainda de acordo com Funaro, em 2015, no período em que começou a tramitar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, Cunha e Temer “confabulavam diariamente”, segundo a reportagem de Veja. Perto da votação que aceitou o processo na Câmara, Cunha enviou uma mensagem a Funaro perguntando se ele teria recursos disponíveis para comprar os votos dos deputados. O operador disse que o dinheiro foi entregue, mas não detalhou a quem.

Homem-bomba
As primeiras informações sobre o conteúdo da delação de Lúcio Funaro vêm à tona três dias após o Supremo Tribunal Federal (STF) homologar acordo de colaboração premiada do operador financeiro. O trâmite foi confirmado na última terça-feira (5). A ideia do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na Corte, era manter os depoimentos sob sigilo, mas novos vazamentos devem ocorrer nos próximos dias.

A expectativa é de que, além de Michel Temer, Funaro faça acusações contra o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha; o secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco; e o ex-ministro Geddel Vieira Lima — todos do PMDB. Outro que está na mira é um personagem local do DF. O empresário Ricardo Leal, que integrava o conselho de administração do Banco de Brasília (BRB) até fevereiro deste ano, entrou no primeiro cardápio de nomes apresentados aos procuradores, quando os termos da delação estavam em fase preliminar.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) aguardava a homologação para utilizar as informações na nova acusação contra o presidente da República, que está sendo preparada e deve ser apresentada nos próximos dias. Após ter a denúncia por corrupção passiva contra si barrada na Câmara dos Deputados, o presidente ainda é investigado por supostos crimes de obstrução de Justiça e organização criminosa.

Na teia das delações
Funaro atuou junto ao ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) entre 2011 e 2015. Conhece cada operação financeira apontada como criminosa pelos procuradores da República. Ele é acusado pelo MPF de cobrar propina de empresários interessados em conseguir empréstimos do Fundo de Investimentos do FGTS, o FI-FGTS. Caiu na Lava Jato a partir da delação do ex-vice-presidente da Caixa Econômica Fábio Cleto.

O operador sabe, por exemplo, detalhes sobre os bastidores da construção do residencial La Vue, que motivou a queda de Geddel do governo Temer. E se diz capaz de desestabilizar o governo federal a partir dos relatos sobre o papel de cada um dos políticos citados em esquemas de corrupção.

Em relatório da Polícia Federal que reúne a transcrição de conversas mantidas pelo operador, é possível tirar a temperatura do poder explosivo de Funaro ao falar de Geddel: “Ele é boca de jacaré para receber e carneirinho para trabalhar, e ainda é reclamão”.

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