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Pai acusado de mandar matar filha por herança vai a julgamento

Renato Garembeck Archilla é suspeito de contratar um PM para assassinar a filha, em São Paulo, em 2001

atualizado

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renato garembeck atentado acusado matar filhar
1 de 1 renato garembeck atentado acusado matar filhar - Foto: Reprodução

Quando entrar no 1º Tribunal do Júri do Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, na quarta-feira (1º/2), “o maior desejo” da publicitária Renata Guimarães Archilla, 38 anos, é ver o seu pai, Renato Garembeck Archilla, ser condenado por ter planejado a morte dela. Para o Ministério Público Estadual, Renato e o pai dele, Nicolau Archilla Messa, morto no ano passado por problemas de saúde, mandaram matar a vítima para não ter de dividir uma herança de família com ela.

Renata teve de ir à Justiça para ser reconhecida como filha do acusado.

Em dezembro de 2001, perto do Natal, ela estava parada em um semáforo no Morumbi, na zona sul, quando um homem vestido de Papai Noel se aproximou e atirou várias vezes. Renata foi baleada no rosto e no braço, quando tentou se proteger. O quarto disparo não ocorreu, porque a arma falhou.

As investigações identificaram o suspeito como sendo o policial militar José Benedito da Silva. Ele foi preso, expulso da PM e, em 2006, condenado a 13 anos de prisão. Sempre negou a participação no crime.

Renata sobreviveu. Após oito cirurgias e anos de tratamento psicológico, ela tenta superar os traumas de ter a morte encomendada pelo próprio pai. “Ele nunca me procurou para nada. O único interesse era não me reconhecer como filha”, lamenta. Hoje, ela é casada e tem dois filhos.

As lembranças do atentado ainda vêm “claras” à mente de Renata. “Estava parada no semáforo quando, de repente, um homem vestido de Papai Noel passou na frente do carro. Ele me encarou e depois que teve certeza que era eu, veio para cima e começou a atirar”, narra.

“Levei três tiros: um na bochecha, um no braço e outro embaixo do nariz. Pelo retrovisor do carro, eu vi ele se afastar, tirar o disfarce e ir embora”, relembra a publicitária, que, após o atentado, passou por oito cirurgias de reconstrução do rosto.

A primeira intervenção durou 11 horas e, em seis delas, a mulher estava sem os dentes. “Uma das piores intervenções foi quando tiraram um projétil da minha mandíbula, mas eu ainda tenho um alojado na coluna e perdi parte da sensibilidade do braço esquerdo”, conta.

Júri
O julgamento de Renato Garembeck Archilla está previsto para durar três dias. Ele será presidido pela juíza Débora Faitarone, presidente do 1º Tribunal do Júri. Para o promotor Felipe Zilberman, há provas que mostram que o crime foi motivado unicamente por questões financeiras. Renato e o pai não queriam, em hipótese alguma, dividir a herança da família com Renata.

“Ela nunca foi aceita pela família paterna, que a rejeitou firmemente”, diz Zilberman. “Foi preciso que ela, desde a infância, travasse uma batalha judicial para que a paternidade fosse reconhecida e o pagamento das pensões alimentícias acabasse efetuado. Foi uma batalha de décadas”, acrescenta.

Segundo a acusação, o ex-policial militar José Benedito tinha em sua agenda o telefone fixo da fazenda de Nicolau. Para as investigações, essa é apenas uma das provas que ligam o assassino aos réus. Renato e e o pai chegaram a ser presos, em agosto de 2008, mas foram soltos dois meses depois, por decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo.

O advogado Rodrigo Fenzi Ribeiro de Mendonça, que defende o acusado, afirma que seu cliente é inocente e foi a vítima que nunca quis contato com a família. “Não há nos autos nenhuma prova, nada, que ligue o réu aos fatos. Sobre o telefone na agenda do executor, a fazenda vende cavalos e o telefone fixo é divulgado em toda a cidade. Nunca houve contato entre eles. Temos convicção da negativa de autoria”. (Com Agência Estado)

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